terça-feira, 23 de julho de 2013

Por toda a minha vida...




Por toda a minha vida...

Você é o nó no meu cabelo.
O esmalte descascado na minha unha,

as olheiras no meu rosto.

























É o brinquedo na gaveta de roupas,
o amassado nas páginas do meu livro,
o rasgado no meu caderno de anotações.
É o melado no controle remoto, o canal de televisão,
o filme no DVD.
É o farelo no sofá,
As tesouras no alto.
É o backup no computador, o mouse escondido,
as cadeiras longe da janela.
É a marca de mão nos móveis, o embaçado nos vidros,
o desfiado nos tecidos.
É é o ventilador desligado,
a porta do banheiro fechada,
a gaveta da cômoda aberta.
É o coque na minha cabeça,
o amarrotado nas roupas,
as frutas fora da fruteira,
os panos de prato amarrando os armários.
É o meu shampoo cheio de água, a espuma no chão do banheiro,
o brinquedo dentro da privada.
É o interruptor nas tomadas.
É o peixe no aquário,
a árvore de natal,
os "pisca-pisca" de todas as casas.
É o círculo, o susto....
A primeira visão da lua no começo da noite.

O valor do meu trabalho, a vontade de aprender,
a minha força, a minha fraqueza, a minha riqueza.

É o aperto no meu peito diante de uma escada,
a ausência de sono diante de uma febre.
É o meu impulso, o meu reflexo, a minha velocidade.
O cheirinho no meu travesseiro,
o barulho,
a metade,
a cor.

É o vazio triste no silêncio de dormir,
o meu sono leve durante a noite.
A minha pressa de levantar da cama, a minha espera de bom dia.
É o arrepio quando me chama,
a paz quando me abraça,
a emoção quando me olha.

É meu cuidado, a minha fé,
o meu interesse pela vida,
a minha admiração pelas crianças,
o meu respeito pelas pessoas,
o meu amor por Deus.




É o meu ontem,
o meu hoje,
o meu amanhã.
É a vontade,
a inspiração,
a poesia.
A lição, o dever.
É a presença, a surpresa
a esperança.



A minha dedicação.
A minha oração.
A minha gratidão.
O meu amor mais puro e bonito.
A minha vida. 

sábado, 20 de julho de 2013

Saudade

A DOR QUE DÓI MAIS

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.

Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.